PÃO E CIRCO

Não me apontem o dedo,

já disse, não me apontem o dedo

Se cometi erros, só a mim interessam

Se devo desculpas, não preciso que me digam;

sei quando devo pedi-las e se devo realmente pedi-las

Minha alma não suporta meu corpo,

caminho a passos lentos,

não tenho pressa de chegar

Dádivas que não reconheço,

não suporto a ideia de Deus,

nem, tampouco, sua veneração

Não creio em querubins

e duvido de Adão e Eva

Casal nossos ancestrais,

assim querem, assim me nego a aceitá-los

Também não creio no dilúvio

Quem poderá prová-lo?

Então, não me apontem o dedo

Não me queiram adestrado, exijo minha independência

Ó Coliseu, onde gladiadores perderam suas vidas,

e a plateia alimentada de pão e circo,

não importunava o imperador

Pão e Circo, a sábia receita:

parco alimento e farta alegria

Quem sairá vencedor,

time A ou time B,

pão e circo,

e a arena está lotada,

e o governante reina como deus

Não me apontem os dedos,

já disse; não me adestrarão

Não creio no cristo redentor,

nem, tampouco, no Judas traidor

Pão e Circo,

e tudo caminhará na mais perfeita harmonia

Perdidas sob a nebulosa noite,

não lhes garantem vida,

Eis que já não podem esconder,

estão em toda esquina, debaixo dos viadutos;

encarceradas sob os auspícios da lei,

elas lotam prisões e esperam a morte

Vítimas do pão e circo;

educadas na inabalável e cega crença

que Ele voltará,

são seres descartáveis,

nada mais podem, então, esperam

Não me apontem o dedo,

já disse, não me apontem o dedo

Não sou a ovelha desgarrada;

nunca fui ovelha e nunca tive pastor

Sou dono do meu caminho,

por ele traço minha vida e destino

Não estou à deriva, nem, tampouco,

procuro porto seguro,

Sou eu meu porto,

Sou eu meu farol

Minha estrada eu pavimento

Então, não me apontem o dedo,

já disse, não gosto que me apontem o dedo

Se cometi erros, só a mim interessam

Se devo desculpas, não preciso que me digam

Sou a humanidade, disso tenho toda certeza

Sou dela a parte e o todo

Sou um e um milhão

Pão e Circo?

Não quero

Ó negro trazido ao ferrolho

Sois a minha dor e meu lamento

Tu, negro cativo,

trouxestes tua força e tua sina

Pão e Circo,

e ninguém parava o açoite

Pão e Circo;

ainda oferecem