O difícil são as horas...
O difícil são as horas...
Enfrentar os anos, os meses e as semanas, é fácil,
(sei por experiência própria...).
As próximas horas, o fim do dia,
esperar a bendita hora de poder voltar de novo a dormir,
estes sim são os momentos difíceis da vida...
Os pensamentos, as recordações, não fazem mais companhia,
pelo contrário – atemorizam, angustiam.
Resta o amor pela mulher amada que não preenche mais todos os instantes,
sobrando muito tempo para pensar, quando ela não está perto.
Como nunca ficam nítidos os vazios, os não feitos e os nãos ditos...
Comparando com o que já passou falta muito pouco para acontecer...
E a indagação pétrea permanece - e então? e agora?
Olha-se o relógio muitas vezes, confere-se se o sol já está a pino,
se começou a escurecer, se já foi servido o almoço,
se vão servir o jantar, se o noticioso começou lá na televisão,
e como será o enredo da novela no capítulo de hoje...
Será que encontrarei um bom filme, antigo, em preto e branco?
Como demoram as horas passar, com cada segundo pingando
o tempo que registra e que parece não querer ir para frente,
sem que se possa acelerar o ritmo da cansativa existência...
A leitura se torna uma obrigação viciada e sem sentido,
e o livro e o jornal pesam sem divertir ou interessar.
A internet é melhor, prende mecanicamente a atenção
pela possibilidade de se saltar, inconsequentemente, de um assunto para outro,
fazendo passar o tempo mais rapidamente.
A musica sim agrada cada vez mais misteriosamente e nos finais,
não um andante com brio mas pianíssimos que convidam uma emoção, irreprimível,
muitas vezes de choro convulsivo,
quase sempre pejado de uma tristeza indefinível, raramente de alegria,
de saudades indefinidas de tudo, cansaço absoluto para lidar com o que está por vir...
A oração tornou-se a repetição automática de palavras que não ecoam mais
esperança, compreensão, aceitação, reverência...
Deus, há décadas, parece que não mais me escuta, abraça, consola e segura minha mão.
Que venham os anos – saberei enfrentá-los com a alegria de um vencedor.
Livrem-me, no entanto, das próximas horas...
Eurico de Andrade neves Borba, Ana Rech, dezembro de 2012