Conchas na Areia
Achei conchas nas areias, vazias de vida, cheias de cascas: formas cristalizadas, estáticas, paradas, desvirtuadas e podres.
Sim, o vinho precisa de odres, mas por que guardar odres vazios, talvez envenenados por mofo?!
Um metamorfo, como a superfície do mar, mas sereno por dentro, como suas profundezas,
eu sei que assim é que é aquilo que é: sempre a mesma essência, vagando por diferentes formas.
Eu me vi caracol, circulando pelos mesmos sulcos, da mesma concha, repetindo e repetindo,
deixando-me levar por respostas automáticas de defesa, contra-ataque fulminante, guerra psíquica... E por quê?!
Porque esqueci de soprar a concha, mover as águas...
Deixo o peito transbordar de sangue, encho os odres de vinho, transbordo as conchas com água pura, lágrimas de amor e felicidade.
Danço, escrevo, canto, em mim todo o mundo, no coração do mundo, tudo de mim...
Pulso, vibro, impulsiono a ir adiante, eu mesmo, ao além de mim, àquilo que sou.