MANACÃ.

O vento eterno esvoa-me a alma,

meu pouco pranto mingua o meu penar.

Eu sinto perto meu coração de jovem

pulsando cantos, que já são tantos,

vem como vinho sinto me embriagar.

Aí respiro, suspiro transfiro....

A minha mente paira como lã

eu vejo a mata bem em minha frente,

Sob o poente lá de manacã.

Lá o infinito se levanta escuro

com o ceu cravado de diamantes

Vibram a brandura das almas serenas dentro de uma noite enorme.

O ceu se abri em azul infindo

revigorando a languidez do sono,

a brisa passa pelas frestas das telhas,

despertando o corpo em abandono.

Mostra as imagens e os seus encantos

na tez morena de cada manhã,

molhando no leito do rio canhoto

as minhas pálpebras em manacã.

Rio canhoto de tantas enchentes

de tantas saudades , lembranças e prantos.

Rio que canta em sua garganta

a melodia dos seus mistérios, das suas profundezas.

Quantos segredos guarda a noite?

Sussurra a noite alta sobre a fazenda

enleva os espiritos das matas,

dos rios,

das estrelas que brilham rompendo a treva

com a sua imensa túnica estendida.

Fazenda antiga de vida completa,

de cana aos milhares

plantadas

cortadas.

Vertendo em caldo ao corte do facão

dos homens fortes no julgo do trabalho

que fumavam na palha e cheiravam rapé.

Fazenda de juncos nus alagadiços

das avencas nus barrancos de barro.

Do temporal descendo as grotas lavando o pó,

das ervas daninhas

das borboletas azuis(muitas)

e dos gafanhotos franzinos.

As crianças brincavam no chão

entre os gravetos e formigas

Catavam pedrinhas em correria afã

Caçavam gafanhotos e largatixas

Por sobre as sombras lá de manacã.

Fico com o vento das tardes claras

desse arraial encantado.

Fico com o hálito da boca da mata

onde rescende o cheiro do passado.

Onde o verão toca vialejo no pátio de minha vida.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 21/12/2012
Reeditado em 23/12/2012
Código do texto: T4047696
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