PROSA POÉTICA – Conversa de sertanejos nordestinos – 13.12.2012
 

PROSA POÉTICA – Conversa de sertanejos nordestinos –
13.12.2012
 
Nesses dias em que comemoramos cem anos da data de nascimento do nosso Rei do Baião, o fantástico Luiz Gonzaga, evento ocorrido em 13.12.1912 (numa sexta-feira), na pequenina e ex-violenta cidade de Exu, aqui em Pernambuco, que ele conseguiu pacificar, dois compadres estavam conversando mais ou menos assim, relembrando músicas de um dos maiores homens desta região sofrida e dominada pelos que ostentam o dinheiro e o poder:
 
Toinho: Bom dia compadre Mané!
-- Bom dia compadre Toinho!
-- Já viu como o dia amanheceu claro e com o céu azul?
-- Pois é você não sabe que hoje é a festa dos cem anos do nascimento do Gonzagão, filho do Januário...
-- Verdade, esse santo homem, praticamente analfabeto, quando jovem, decidiu fazer aquela TRISTE PARTIDA naquele PAU DE ARARA para o sul do país, a fim de fugir da terrível seca que, como agora, assola o nosso sertão nordestino.
-- Sei disso, lembro que até chamou a namorada e disse VEM MORENA da CINTURA FINA, vamos fazer feito a ASA BRANCA, bater asa e voar; vamos porque esta vida nossa aqui amarga QUI NEM JILÓ, vamos dançar nosso PAGODE RUSSO em outras plagas; caso não queira, pelo menos PENSE N’EU de vez em quando, porque você é minha, NÃO VENDO, NEM TROCO...
-- Chegou a pedir que ela pusesse em sua pouca bagagem um punhado de OVO DE CODORNA pra fortificá-lo e aumentar seu XAMEGO, pois como filho do SEU JANUÁRIO não poderia falhar na hora H; além do mais, dizia ele, quero dar trabalho à SAMARICA PARTEIRA pra quando eu voltar dessa VIDA DE VIAJANTE. Penso que vai ser DANADO DE BOM...
-- E continuou: “Vou sentir muita saudade do MEU PÉ DE SERRA, do FORRÓ DE MANÉ BENTO, da vida de BOIADEIRO, do canto do meu SABIÁ, do ASSUM PRETO, da VACA ESTRELA E BOI FUBÁ, da CORRIDA DE MOURÃO, da NEGA ZEFA e do caminhar na LÉGUA TIRANA, na ESTRADA DE CANINDÉ, do ABC DO SERTÃO; quero entrar na DANÇA DA MODA em JUAZEIRO, e na PARAIBA e dar umas aulas de dança com a minha XANDUSINHA, meu amor”.
-- Mas na DANÇA, MARIQUINHA era muito boa, principalmente no BAIÃO, e adorava um CIGARRO DE PAIA, entretanto no CEARÁ NÃO TEM DISSO NÃO, pois VIRA E MEXE tem de ir sanfoneiros daqui pra lá pra tocar RIACHO DO NAVIO, SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO, SANFONINHA CHORADEIRA e SÚPLICA CEARENSE, esta que é uma verdadeira oração.
-- Lembro-me, compadre, quando ele perdeu seu instrumento de trabalho e recebeu uma novinha SANFONA DO POVO, que a tocava nas NOITES BRASILEIRAS. Sua namorada ficou triste, porquanto dissera: “ELE NEM SE DESPEDIU DE MIM, preferindo o XOTE DAS MENINAS e o XODÓ DE CABO A RABO, que era um tipo de FORRÓ NO ESCURO, assim como quem deixa a TANGA VOAR, ao som de LUAR DO SERTÃO”.
-- Pois é, teve uma vez que o FOLE RONCOU de FIÁ PAVI; era mulher pra dar e vender, assim UMA PRA MIM, OUTRA PRA MIM, UMA PRA TU, mas aqui só não entra A MULHER DO MEU PATRÃO, pois seu FOGO APAGOU e não mais satisfaz o DOCUMENTO DO MATUTO...
-- POBREZA POR POBREZA meu compadre foi aquele CASAMENTO DE ROSA, com os convidados se ENGABELANDO neste NORDESTE SANGRENTO, mas em matéria de forró AQUILO SIM ERA VIDA...
-- Agora, APROVEITA GENTE, O BAIÃO VAI fazer troco até de DEZESSETE E SETECENTOS, pois lhe dei vinte mil reis pra pagar três e trezentos, naquela matemática enrolada dele na hora de pagar as despesas na bodega...
-- Sabe, compadre, a conversa tá boa, mas eu vou me juntar àquela multidão que vai acolá, vamos ver se com tanta fé pelo menos ERVA RASTEIRA vai nascer daqui pro fim do ano... e se despediram com um abraço.

Fonte da foto: INTERNET/GOOGLE. Caso tenha direitos autorais é só me avisar que eu a retiro, pois aqui nós escrevemos por amor e não por dinheiro.
 
Ansilgus
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Enviado por ansilgus em 20/12/2012
Reeditado em 20/12/2012
Código do texto: T4046041
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