Alfaiate sem medidas
Você chegou de repente, tomou meus brinquedos,
costurando-os num invólucro de seda colorido,
e me devolveu em seguida, como um tesouro
caro e querido que nunca foi esquecido.
Pegaste-me pela mão e me fizeste rodopiar
em vaidades, me vestindo de princesa
com promessas de príncipes encantados.
Construiu um espelho em grandes dimensões
que refletia meu andar, as estratégias
do olhar, as poses inventadas para conquistar...
Me visualizei na imagem invertida, com planos
e também muitos prantos...
Fez espelhos dentro de outro espelho.
Chegastes sim, de repente...
Apresentou-me sonhos, e também
desenganos, experimentados ante
a primeira fantasia...
Me levasse pra campos de flores,
me inebriaste cegando-me aos espinhos,
que me rasgaram em trapos...
Foram tantos retalhos que remendastes
com carinho, num âmago de aprendizado,
com entremeios de bordados de exclamações
e interrogações, diante dos sobressaltos de alegrias,
de espantos, muitas dúvidas e decepções.
Ficaste todos esses anos cosendo rapidamente
este pano com momentos intensos,
que a pressa fez com que algumas linhas
se soltassem e agora pedem reparos...
Peço-te, alinhave vagarosamente com
cuidado este tecido já corroído,
de vitorias e derrotas... Sobrevivente
de tantas costuras desmanchadas.
Quando o último fio já houver rompido
em definitivo, elabore um sache de tudo o
que foi vivido, faça-me de exemplo
confecionado por este alfaiate que se chama: TEMPO.