O despertar que não vem

Largado em um canto não sabia mais para onde esperar. Os ventos eram os mesmos, o aroma que ele trazia nem se identificava mais. Saturação olfativa. Podia jurar que um dia, no mesmo ponto de observação veria passar uma banda marcial, um desfile de carnaval, animais em alguma rota migratória. Não. Eram sempre as mesmas ondas que iam e viam, repetidamente iguais. Uma maresia, era isso que se alastrava cada vez mais entranhada em seu peito. Profunda como uma fossa abissal e que a cada dia fazia um fosso maior. Onde isso chegaria? Olhava e esperava. Novos ventos? Tempestades? Derrubariam-lhe de seu ponto de observação e o faria caminhar? Mais uma vez esperava. Em desalento esperava. E ela não vinha: a mudança, o rompimento, a decisão. E por só esperar continuava apenas observando, seus mesmos hábitos, sua rotina silenciosa e sólida. Uma maresia tomava-lhe tudo.

Di Ramos
Enviado por Di Ramos em 19/12/2012
Reeditado em 08/01/2013
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