Eu e outros
 
                           Para:  
                           DAVID S. WAISMAN
 

 
Em cada um de nós evapora esse arranjo cultural diversificado fluído em indefinidas cores entre delicadezas mescladas pela mutação permanente, impossível de ser freado na ventania temporal. E o vivente corta inúmeros dias, explora múltiplas estações em diferentes ocasiões, ruas, leitos e paisagens distintas, e ainda assim continua, mesmo que minimamente, pintado, inserido, identificado ao lugar áureo.  O tronco pensante contamina-se com as diferenciações por ter ingerido e pisado noutros solos, impossibilitando a recomposição plena, e a impossibilidade fala, ensina, compara, alimenta e flui, e o racional fica quase ausente ao chão nesses espaços temporais dissolvidos e remodelados...
E no semear dos olhos imaginativos do presente o tudo se parece com um jogo onírico, associação que se perde veloz perante as brasas que aquecem a mente oscilante, consciente do realismo extinguido e vivazmente vivo no caule amadurecido...
 E o ser acometido por sentimento saudoso talvez lamente a metamorfose do tempo, porém, diante ao acolhedor pôr do sol, no balanço das ramagens, na leveza do vento, outras sensações agradáveis se tornam reais na continuidade do sentir, e o intimo ganha nova camada de fragmentos no ensejo do frio ou no calor de símbolos que se aconchega nos cômodos da memória acesa que se registra em extensos livros, afirmando que o indivíduo continua retido em sua própria casa humana, mas que é impossível se igualar ao mesmo rastejante de outrora mediante os muitos revestimentos ocorridos na estrada esburacada, e é quando todas as histórias plantadas no corpo resolvem sair para se refletirem, obrigando ao efêmero passante a constatar ser tão o presente quanto o passado, e não mais se sabe onde se estar, quem se é, e muito menos o que se almeja de fato, então se percebe que existem várias pessoas numa única, e a vibração de todas as vozes espelham a insensatez da homogeneidade dividida, e os seres, dentro da casa vasta, ora são um cômodo, ora são a própria casa ou nem mesmo a casa, apenas fazem parte dela sem discernimentos exatos, e ao mesmo tempo em que se alargam na amplitude circular, também se notam unos no vasto manto, pois a mescla das aglomerações jamais consegue dissolver completamente as raízes individuais, pois estas; estas são impossíveis de serem arrancadas...

 
 
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 17/12/2012
Reeditado em 11/07/2013
Código do texto: T4040202
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