Admiradora Secreta
Eu vi de longe cada um dos seus sonhos e todas as suas lágrimas... Eu senti cada uma das suas dores e entendi cada uma de suas revoltas... Eu ouvi todas as suas tristezas e acompanhei todas as suas angustias enquanto procurava por respostas. Estava ali, no canto invisível em todas as suas conquistas e comemorei todas as suas vitórias, amarguei todas as suas derrotas... Com orgulho, te vi sobreviver a todas as porradas que a vida te deu e fui sua voz quando clamou por justiça... Te apoiei em cada uma de suas batalhas...
Enquanto você vivia, eu estava aqui, por aí, do seu lado, sempre por perto, nunca distante, cuidando dos detalhes, do que você não via, do que não era importante... Cada detalhe, para que nada falhasse, para que seu sucesso fosse sempre garantido e sua estrela, que ela nunca se apagasse...
Pela janela, te observava sorrindo e das coxias do palco da vida, eu te admirava, sempre tão radiante, tão puro, tão lindo. Cercado de pessoas, de sorrisos, de elogios e tão popular, tão querido... Tão amado!
Inúmeras vezes tentei uma aproximação e por quantas vezes eu ensaiei em frente ao espelho, palavras escolhidas cuidadosamente para te falar o quanto eu queria que olhasse para mim, que me sorrisse, que me deixasse tocar seu rosto alvo, sua pele tão clarinha, tão macia...
Quantas vezes, em silêncio, te confessava meus segredos, te contava do meu dia e das canções que nunca tive chance de te mostrar, de todos os versos que foram crescendo junto com meu sentimento e se tornaram poesias... As flores que comprava toda sexta, mas que não entreguei, porque sempre recebia outras mais viçosas e bonitas e a carta de amor, que agora se debate contra as chamas que a consome.
Hoje eu choro, todas as lágrimas que guardei por um sentimento, que eram para ser de alegria, todos os sobressaltos de meu coração são sufocados com soluços de tristeza infinda ao te ver passar, tão soberano, cercado de moças que suspiram pelo seu caminhar e que sempre te cercam de mimos e galanteios... Eu aqui ainda imploro, em pensamento, um maldito sorriso teu!
Diz-me que apenas eu te acalanto em suas depressões, que te acalmo nas tempestades, que conforta sua alma quando a dor maltrata seu coração, mas não me é permitido estar ao seu lado quando recebe os aplausos. Quando os holofotes estão todos em você, a luz me ofusca no meu canto, nesse mesmo que há tempos te observo e admiro escondida, permitindo-me apenas vislumbrar, pela penumbra, outra silhueta em seus braços...
Então eu percebi: do tanto que inteira me entregava, apenas a metade te bastava, do tanto que me dedicava, era pouco o que realmente precisava... Passo desapercebida, como sempre foi, por um vão na escada, por trás da cortina, sempre tão perto, mas tão distante da sua vida!