Efêmero. Permanente.
O permanente assusta. Ele nos ultrapassa. Talvez porque se demora, vai ficando, acumula, umedece e fede. Mas, se isso for mesmo verdade, as coisas permanentes jamais morreriam. Um paradoxo. Aquela velha máquina de costura da vovó ou as xícaras de porcelana da titia não estão mais no mesmo lugar. Onde estariam? São coisas que se demoraram, mas não foram permanentes. No calo de tempo, a cavalgadura de viver nos incomoda a ponto de nos impedir de enxergar isto: o que muito vive é porque morre. Por isso não há sentido em dizer que gozar do temporário seja viver intensamente. Há muito tempo e tempos vários. Há o tempo de quem sofre e o tempo de quem não me vê sofrer.
Fugimos cada vez mais do duradouro. Fugimos das inarredáveis conclusões do permanente, gozando a goles sôfregos os prazeres que nos distraem, correndo de lado a lado para tocar as paredes da existência em claustro. Entende-se, assim, o pasodoble de alguns que se acorrentam em compromissos enfadonhos e sucumbem, de bom grado, às temporalidades de sortidos prazeres.
Gozar as coisas e os seres, com especial ênfase na quantidade traz o mesmo efeito que fazê-lo em qualidade. A integralidade está no fazer e no fazedor. Necessário é encontrar sua melhor forma de sorver da taça do tempo. Seja a de comer pelo dia, beber pela hora, lamber minuto, ou cuspir segundo. A escolha nunca assusta, assustam as consequências. O carpe diem é individualíssimo. O processo de existência é tão múltiplo quanto único.
Tudo isso se soma à puída discussão sobre fidelidade e sobre as escolhas. Pode ser cada vez mais difícil apostar em amores eternos quando, de tanto querer eternidades, sentimos suas aniquiladoras aproximações. Parece mais fácil pular de jardim em jardim, à caça de olor e beleza de tantas flores. Seria por medo do permanente ou por medo do efêmero? Fico com a terceira opção: é por medo do tempo. Por ele queremos o passageiro, e por ele sonhamos com o eterno.