AGORA É TARDE...

Você aí, enfiando estacas no chão,

enquanto gira ao redor de si mesmo

ignorando a corrente vertiginosa

que alimenta seu medo

de que tudo sob os seus pés desabe,

de que essa fantasia como sempre acabe

e seus planos escoem com a água

do seu próximo banho de enxague...

Você aí, com ares de uma magestade que não lhe cabe

vassalo que é de um reino que não existe.

Reinos não se fazem com castelos de cartas

que você sabe marcadas,

no jogo que você sabe perdido.

Você bem sabe que não é possivel fazer-se feliz,

justo e limpo por decreto.

Não é assim que as coisas vão dar certo.

Não é negando as evidências do concreto

que você plantará seus jardins.

Você aí, que calou a sua voz na secura

dessa sede alimentada à beira da loucura

água turva e envenenada, que mostra o triste reflexo

do que há de pior em você,

aquilo que eu sei que você detesta ser.

Você bem sabe de tudo e do quanto é tarde para retornar

ao marco zero da liberdade de voar para onde quiser

e ser como se planejava.

Não fui eu que lhe fiz mal, o nome é outro,

para o que permeou cada verbo, gesto, passo, ato

que lhe foi dedicado nesse tempo que foi morto

pela sua sina estranha de sempre desistir de si mesmo.

Quando ela de novo se cumpriu, eu estava tão perto

que me perdi com vc em seu infinito deserto.

Você aí, preso nas estacas, rodopiando na corrente

morto de medo que tudo desabe nessa frágil imagem

que você retoca a cada bobagem com que me fere

que você sustenta sobre o falso trono de rei sem magestade...

vassalo de um reino sem honra e sem herói que a resgate.

Quando tudo se cumprir e o fogo ardente da verdade

queimar seus olhos cegos e seu coração covarde

você terá apenas as cinzas do seu sonho medonho

de onde eu pude ressurgir em meu alarde

de amor, desespero e indignada vontade

de viver plenamente tudo aquilo que quase fomos.

Por sua conta e sozinho, pague o preço que lhe cabe

por ter escolhido ser a patética personagem de uma mentira

que você constrói para mascarar essa estrada

que nunca, você sabe, lhe levará a nada.

E negue-se o direito de chorar sobre o que restar,

após o desfecho de seus enganos

se quiser continuar a parecer o que nunca terá coragem para ser

aquele homem que se mostrou para se fazer amar...

Você aí, que ao me negar justiça, nega honra a si mesmo.

E suja a minha imagem com o reflexo de seus espelhos...

Desejo que se cumpram todos os desígnios criados à sua vontade.

Eu não posso mais adiar os meus sonhos e planos.

Pois para tudo que não chegamos a ser, agora é tarde...

Anna Wurlz
Enviado por Anna Wurlz em 09/12/2012
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T4027465
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