TESTAMENTO
Paira sobre insanas cabeças
uma louca e desmedida vontade
Cabeças ocas dominadas por vontades vãs
Não sabem, todavia,
que é nesse mundo igualmente
tomado de incríveis vontades,
que ocorrem tentativas de saciá-las
É o tempo já outrora iniciado,
por tantos outros que lutaram,
é o tempo do resgate dos sonhos
Que não cesse o caminhante seu caminho
Que não se perca a infância outrora cultivada
Que não se corte a água para que pereça o jardim
Tudo outra vez e tantas outras mais
para que a roda não pare seu ritmo
e cumpra seu perpétuo movimento
Tudo outra vez e sempre,
para que toda manhã receba nova luz,
o colibri possa passear sobre a roseira
e a abelha colher o néctar do mel e alimentar a colmeia
Tudo, eu voz digo,
balbuciou já no leite de morte,
o ancião que chorava de alegria com cada nascimento
Tudo se renova, disse ele, quando se sabe recomeçar;
é a sina da Fênix, somos fênix; completou
E todos entenderam, e não lamentaram sua partida
Nenhuma voz embargada,
Nenhum titubeio esboçado;
Todos entenderam;
e saíram em passeata pelas ruas da cidade