Espectadora

Talvez eu não tenha mais que lutar. O jogo acabou. Talvez eu seja, agora, apenas mais uma espectadora da minha própria vida. Analiso, julgo, mas é apenas um palpite... Desconhecido.

Daqui percebo quantas chances desperdicei, o quanto me importei pelo que não havia importância; quantas pessoas magoei e tantas outras que deixei pra trás.

Daqui percebo que um sorriso talvez tivesse mudado meu dia se eu tivesse dado importância a ele; que desculpas talvez tivessem me aliviado e que perdões tivessem lavado minha alma. Talvez tudo tivesse mudado se tivesse deixado de lado o meu orgulho.

Humanos. Preocupam-se com o desenvolvimento tecnológico e científico; preocupam-se com finanças, conhecimento, prosperidade. Mas não com o desenvolvimento interior. O pior? Percebem os erros e, geralmente, nada fazem. Buscam ser melhores, buscam ser mais maleáveis e amáveis. Mas, no fim das contas, tornam-se tudo aquilo que prometeram, talvez há algumas horas atrás, não ser. Como ser humano, gostaria de deixar toda essa reprovação num imensurável vazio que, na sua inútil função, me invade. Quanta ironia.

...

Mais um vez me vejo como espectadora. Sento na fileira da frente. Quero gritar: “Ei, você está fazendo tudo errado”. Mas não há respostas. Ninguém ouve um espectador com seus palpites desconhecidos. Subo ao palco. Olho ao redor. Não sei o que fazer. Sinto impaciência e o pânico invade. Volto pro meu lugar... De espectadora.

Fecham-se as cortinas. O jogo realmente acabou.

(Em 26 de fevereiro de 2012)

Por Jéssica França
Enviado por Por Jéssica França em 07/12/2012
Reeditado em 07/04/2014
Código do texto: T4024249
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