Tempo

Naquele relógio que não tinha pressa, as horas pareciam com as mesmas , mas não eram. Ele tinha um tempo diferente, diferente do meu tempo, e do horário legal. Naquele relógio o despertador era pensante, não tinha como programar. Desperta quando precisa, quando sabe que a hora chegou. Um ponteiro do relógio andava desapontado , então girava com um passo maior do que podia e fazia confusão no dia: a hora passava, o dia não terminava e quando menos se esperava: tudo já passou!

O relógio fez a vida parecer um instante, então não pensei duas vezes : coloquei na minha estante. Quero esse relógio comigo, que é pra eu me perder no tempo, sem ter tempo perdido. Mas o relógio deu pra trás: sentido anti-horário, sem sentido, sem horário. Seu tempo acabou, sua pressa agravou, e o relógio entrou em descompasso com o descompasso, deu tempo ao tempo.

Agora, lá fora, o tempo fechou. O relógio mudou a hora e nunca mais voltou . E minha vida tem o tempo que qualquer vida tem: o mesmo tempo passa lento enquanto espero, em vão, um relógio diferente.