Feridas
Ela se encontrava caída e sangrando no momento em que ele chegou. Assim que viu aquela cena, ele correu para ajuda-la ignorando completamente o outro alguém que tentava de forma inútil e desesperada estancar tanto sangue que vinha de seu coração e inundava sua alma. Ele pôs esse outro alguém para fora, o que cedo ou tarde acabaria por acontecer, e começou a levanta-la. Ela não pôde deixar de notar que também haviam feridas em seu coração, a maioria já cicatrizada, mas algumas ainda insistiam em permanecer abertas. “Deixe-me cuidar de você”, ela disse a ele mesmo sem saber se seria capaz de tanto já que ela mesma estava ferida e sangrando demais para o tempo que já havia passado. “Curaremos um ao outro simultaneamente”. Depois de lava-la de tudo aquilo, ele a fez enxergar que nada era tão monstruoso quanto parecia e que juntos iriam se curar. E exatamente assim se sucedeu. As feridas que ainda estavam abertas no coração daquele anjo salvador estavam sendo curadas pela sua protegida e vice-versa. Era algo bonito de se apreciar, algo gracioso, algo quase divino. As experiências que causaram tais feridas em ambos eram semelhantes e eles se compreendiam e se ajudavam, eles se gostavam, eles se amavam. Não eram necessárias exigências ou cobranças, era natural, era simples. Eles se escolheram e ver o outro feliz, ajudar e curar um ao outro era satisfatório.