Rolem, Águas!...
Rolem águas, por baixo da ponte e nos limites impostos pelas margens dos rios, pois que por cima ou por fora, teu efeito é destruidor...
É tão bom contemplá-las, quando passam murmurando serenamente, ou até mesmo, zangadas, mas contidas em seus limites-leitos... só é lindo vê-las em fúria quando estamos calmamente sentados, assistindo a um filme pela TV.
Rolem, águas, mas não me levem, pois meu signo é do ar... nasci para planar entre as nuvens, atrever-me em vôos inesperados e absurdamente altos, dando rasantes por sobre teu espelho líquido. Não fui feita para navegar. Nem mesmo sei nadar. Teus humores provocam-me pânico, mas mesmo assim, não consigo deixar de render-me à tua beleza e mistério. Respeito e admiração, eis o que sinto pela tua liquidez.
Águas que mesmo mansas, formatam as mais duras pedras. Tuas lânguidas lambidas aos poucos fazem das pedras o que bem entendes. E elas nem mesmo percebem. Tens a sabedoria da paciência e da perseverança. Gosto de aprender contigo, mas sempre à margem, observando-te; no máximo, molhando meus pés e mãos... deixando que passes fria e indiferente por meus tornozelos.
Só me sinto segura em tua presença quando posso contê-la em uma banheira, grande o suficiente apenas para mergulhar meu corpo deitado. Mergulho em tuas propriedades curativas e adstringentes, lavando meu corpo e minha alma. Relaxo. Só assim, me entrego a ti sem medos.
Amo quando choves sobre mim, nas quentes tardes de verão, desde que sejas breve.
Gosto de beber-te bem fria, cristalina, sem químicas. Gosto de aguar as plantas em meu jardim. Lavar as mãos e refrescar meu rosto em ti, mas em quantidades que caibam nas palmas de minhas mãos.
Rolem, águas, ao sabor das fases da lua, que te acalma e te transborda, te enfurece e te faz recuar como uma fera domada. Fico à tuas margens.