Gosto

Gosto do que não é obviamente bonito, do imperfeito, do sujeito indeterminado.

Gosto do gosto de algumas palavras, e alguma pessoas enchem minha boca d’água, como se pudesse devorar, mastigar seu coração.

Do céu nublado, do vento forte, do mar bravo, dessas coisas gosto muito.

Da cerveja gelada, da noite estrelada, do arrepio indisfarçável. Gosto dos detalhes, das pintas, da penumbra, do canto dos pássaros. Gosto de um jeito inexplicável das cicatrizes, dos pêlos nos braços, da lua cheia. E gosto dos cheiros cheios de história, dos tênis que não me fazem calos, dos pés na grama molhada. Do silencia em baixo d’água, do sol na piscina, do meu corpo fatigado da natação, gosto especialmente. De estudar Oceanografia, de morar longe da minha origem, de sobreviver sem os pedaços que me faltam, me orgulho.

Eu gosto do vento no meu cabelo, da cor do vinho, de um livro novo... Gosto de gostar do que é diferente, do que é imprevisível e surpreendente. Gosto de estar difente, de te descobrir em mim a cada dia.

Eu gosto do gosto, do som, do cheiro, do toque de gostar. E eu gosto, enfim, sem ter porque gostar.

Cecilia de Moraes
Enviado por Cecilia de Moraes em 02/12/2012
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