DESALENTO...

Ah! Pequena vida que se esvai

em meu ventre

não mais teus passos guiarei na vida

Não mais verás minh'alma vacilante

não posso te devolver a vida!

Reneguei-te, portanto, quando

começavas a nascer

minh'alma chora como torrentes

que das chuvas fortes

lançam aos ares um rumor profundo!

Foge de mim os sonhos

estou em agonia

Mentira! Tudo mentira!

meu sorriso terno

-escárnio-

meus olhos cintilantes

-faíscas invisíveis-

fogo do inferno!

Quem sou eu? Desnaturada!

Em mim há serpes ocultas

um pérfido veneno...devorantes lumes!

a luta é forte - o coração sucumbe!

Com que direito me julgo poeta

se sou tão insensível à vida?

Mil vezes morresse eu e o meu

transporte de dor pudesse transformar

essa lágrima ardente em vida!

És dos meus erros

o maior

o crime grave

minh'alma triste se enluta

quando a voz da minha consciência

me acusa : " Não tinha o direito de te

ceifar a vida "

(ESCRITO EM 1989)