ENQUANTO EXISTIR

De quem era aquele ali esquecido?

Perguntou desolado um velho

Todos se calaram;

não se dá atenção a um velho,

pareceu dizer o silêncio coletivo

O velho insistiu, mas peguntou de outra maneira

E à perguntou "de quem era aquele tesouro esquecido",

seguiu-se novamente o silêncio

E de novo, renovando a pergunta,

o velho insistiu:

Como podem permitir que façam isso,

como admitem esquecê-lo assim,

jogado num canto?

Ninguém olhou para o velho

Ignoraram-no como ignoravam aquilo no canto

O velho, inconformado com o que via,

não mediu esforços:

Dirigiu-se ao esquecido,

pegou no colo e o acariciou

Ninguém ousou impedi-lo

Todos observavam, em silêncio, é claro

Quando estava saindo com aquilo no colo,

o velho sentiu algo puxar seu casaco:

olhou para trás, não viu ninguém

Fez que ia avançar, mas algo o impedia

Tomado dessa nova tentativa,

olhou para trás e viu, abaixo da sua cintura

um garoto

O velho abaixou e perguntou para o garoto o que ele queria

Nada só quero agradecer por ter achado meu livro, disse

O velho entregou, e todos viram um belo sorriso de satisfação