ANTES DE EXPLODIR DE RAIVA...



Morri há pouquinho... morri tão forte que parecia que seria a última vez. Mas qual, dessas mortes de mentira eu já estou calejada... mas quem sabe sejam mesmo as verdadeiras... quem sabe... porque quando nos vamos de vez para o reino das trevas, não há esse regurgitar da dor de se danar toda, são uns suspiros, uns gemidos, até nem isso, e pronto... tudo acabado... Não há esse tempo de engolir pedras e cair de si como de um precipício, ir indo, indo e sabendo que logo mais, acabado este tormento, tudo voltará ao mesmo ponto, estaremos respirando, nos enganando com o que há por vir, ah, o que há por vir...porvir! 
Não quero mais enganos, nem iscas diante dos olhos suplicantes. Luzes acesas, agora! Nada de penumbras enganadoras. É preciso luzes incidindo sobre as feridas e os escombros ... Vamos lá, amiga, liga esta luz e foca direto sobre o ponto mais dolorido, mostra logo este fantasma disfarçado de vida nas sombras desta casa.. Mostra logo à tua incredulidade o aleijão que se oculta sob a cortina da sala te espiando. Joga nele o vaso de cristal para que saia de onde fica a te observar, a te lançar setas envenenadas de tédio e desespero . Descoberto e sem saída, será a hora da decisiva luta, talvez tu o reintegres a um longínquo inferno dentro de ti.. ou o esmagues com a tua inesperada força e decisão... quem sabe do que somos capazes, ora frágeis , ora possuídos de forças satânicas.. Mas não conta com uma vitória ... há muitos demônios para acertar... se eu bebesse agora uma garrafa daquele vinho branco, ai , isso é alguma piada... esquece isso...
Olha só, parece que o tal demônio recuou, com a minha inesperada investida. Eu o vomitei todo agora, sob a intensa luz da minha raiva. Vade retro...

[ apenas um exercício , uma pantomima interna para não explodir de raiva... as nossas raivas podem matar... e antes que isso ocorra, nós que não queremos mesmo morrer e temos o vício da escrita, colocamos tudo pra fora.... ]