UM GRÃO DE AREIA AO VENTO
Hoje fiquei a meditar naqueles autores que possuem o dom de nos transportar para mundos distantes. E, ao mesmo tempo, para tão perto das nossas insondáveis profundezas. São os que produzem um texto mágico. E quando os lemos ficamos extasiados. Algo lá por dentro de nós brilha. E diante de tanta beleza pouco há que se dizer. Mas muito o que sentir. Textos de pura emoção, surpresa, encantamento. Diante de um texto assim, a prudência recomenda o curvar e o reverenciar, feito silêncio e carinho de estrelas. Ou magia de luar. Quando alguém escreve assim, com tal precisão e leveza, já transcendeu a matéria. Alcançou em vida o nirvana. Aqui está apenas como um sopro de brisa. Cumpre a sina de acariciar a pele da alma, tão somente. Ou se faz essência de flor consciente de seu dever de colorir e perfumar. Esses já não mais pertencem a esse mundo. Em vida, são etéreos. Inda moram aqui por sagrado desígnio, para inaugurar alumbramentos em nosso ser. Para nos fazer ora sorrir, ora chorar. E às vezes choramos apenas por dentro. Outras vezes turva-nos os olhos uma lágrima de cristal. Feito rio translúcido, um fio de caracol que vai deixando uma trilha de prata em seu caminho. Daí, uma emoção calada nos faz viajar cada vez mais longe. E ficamos cada vez mais perto daquilo que nos toca de maneira tão suave que sentimos uma alegria triste para a qual não temos nenhuma palavra que a possa explicar. Eu coleciono, escondido, alguns autores assim. Eles penetram pelo fio dos meus olhos, bem devagarinho, e vão se transformando em pura poesia.
Sem métrica, sem rima. São eles pássaros do além com asas de infinito a me acariciar. Eu os coleciono, sim. São lírios, alvura de neve, quem sabe, pétalas de infância, carícias de jasmim. Ou, apenas, um grão de areia soprado pelo vento, transportando imensidão.