ainda não...

Sigo teus passos seguros, os meus cambaleantes procuram manter o ritmo de sua marcha. A noite essa amiga em paradoxo, nos faz acreditar em suas promessas promíscuas e nos flerta com fantasmas astutos. Deito-me ao seu lado em um catre de expiação e diante dos meus pecados cometidos sem o tino da razão entre o choro e a reviravolta de minhas entranhas que me trazem na boca o gosto amargo do fel... Envergonho-me diante da morte e não de ti.

Ela, a morte, aproxima-se languidamente e deita-se ao nosso lado, nos acalenta, nos conta histórias do nosso passado, relembrando quanto já esteve próxima nas noites de luar ou no crepúsculo. Disseram-me uma vez numa cama de hospital que os doentes se debatiam nesse momento em que o dia cochila esperando a noite e o sol ainda brilha. As estrelas e a lua aguardam ansiosamente quem as velará e quem serão velados por elas... Na noite tudo se revolve, na madrugada, tudo se precipita, e cá estou ao seu lado, sem beber do crânio de seus antepassados e sem riscar nos céus contorno imaginários para a Lua. Deixamos o catre e seguimos cabisbaixos rumo ao precipício, nos sentamos quietos, absortos em nossas sensações, sem ações... Entre o passado que açoita nossas costas e o futuro tão obscuro, o presente não pressinto, mas te sinto hipnotizado diante do próximo passo, seguro suas mãos, ainda não, não me deixes...

Meu calabouço, caberia em meus bolsos se os tivesse, guardo-o a sete chaves dentro do meu peito que arrebenta minhas veias na tentativa de me libertar...

O precipício, ainda insiste, ouço os gritos que do abismo nos chamam, olho em seu olhos e sinto o meu medo estampado nos seus. A certeza que um dia chegará consensualmente ou litigiosamente e cairemos ambos nos braços incertos daqueles que nos anseiam entre as sombras profundas de nossas consciências noturnas...

Amanhã, o precipício se fará ladeira pedregosa diante dos holofotes daqueles que esquizofrenicamente desejam minha queda, lenta, dolorida e real... E você, ficará sentado diante da borda do seu próprio precipício a me observar e a sorrir, desconhecendo seus princípios, suas próprias armadilhas e num ato de coragem envergará suas palavras afiadas em um desafio cortará o fio tênue que nos liga: A solidão.

Mas é noite ainda e será por um longo tempo... Feche os olhos, adormeça, pois a vida ainda é bela e eu ainda sangro em letras, se sangro, estou viva...

Almma
Enviado por Almma em 12/11/2012
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