MINHA ARMA
Sei que tudo vai, tudo passa. Que no decorrer dos dias, tudo que para mim tanto significou se torna mera nostalgia. Minha arma, não. Minha arma fere. Fere fundo, fere até o mundo, se eu quiser usá-la para ferir. Mas não quero. Não gosto. Minha arma não faz sangrar corpos, faz abrir mentes. Fere idéias, não tira vidas. Poderosa, fina adaga que penetra, perfura, adentra, vicia. Traça, retraça, destroça, escraviza. Mas acalma e alivia. É minha paz, minha angústia e minha utopia. Seus rastros não saem mais de mim. Ficam, persistem... existem! É como ter um filho, o que ela faz comigo. Aliás, filhos. Paridos do meu ventre. Filhos que, após vir ao mundo, amarei para sempre. Minha arma é leve, reta, esguia. Carrego-a entre os meus dedos. Ela levita. Usando-a, saio do mundo. Elevo-me até outras dimensões. Rio. Choro. Desabafo, esbravejo, denuncio. Ela não poupa minha consciência. Não sabe nada de ciência. De coração sabe. Muito. De alma também. Se alimenta de metáforas. Ela, minha inseparável e necessária arma. Pequeno e incoerente objeto que me escraviza e liberta. Que me acorrenta, me faz insana. Fala quando meu coração cala... me faz ser, me faz viver. Me esvazia. Dá liberdade ao que está preso dentro de mim. Simples assim. Minha arma azul me faz ser poeta... me faz ser diferente do resto das pessoas, e ao mesmo tempo tão igual...
Minha arma é minha paixão. Meu coração a guia através da ponta dos meus dedos... e ela fala!