DO SILÊNCIO

É só aqui tão longe que me encontro,

que encontro o resto de tudo o que nem fui,
aquilo que não se vê sob o pó de todas as coisas...
E há um silêncio esquecido largado pelo chão,
um silêncio que ninguém fez...
Um silêncio largado ali a perder-se na imensidão.
Porque todos os gritos morreram em vão,
todos os filhos mortos lutaram em vão,
todas as mães choram sempre em vão
e todos os poetas ainda sonham em vão.
Porque toda poesia nunca acaba em pão,
quando toda palavra sempre quer dizer não...

Para onde vão as noites que não vi?
Para onde vão as palavras que não gritei?
Para onde vão os sonhos que ainda não ousei?
Para onde vão os poemas que não escrevi?
A vida toda adormeci, toda a vida esqueci,
para onde vão os momentos que nem vivi?
Eu só sei do rastro do resto de algum rosto
que não olha e não vê, não fala, não se agita
não grita, não arrisca, que não chora nem sorri.

É aqui bem perto, muito perto, que eu me perco,
juntado aos cacos de tudo aquilo que nem fui
e que se quebrou quando caiu de si.

Há somente o pó sobre o pó de todas as coisas
e sob o pó de qualquer uma dessas tais coisas
há somente todo o silêncio que ninguém quis...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 08/11/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3975927
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