A MINHA NOVA IRMÃ
Usando um velho e simples vestido de chita
Tingido de negro
Nos pés, uma sandália muito desgastada
Triste e amedrontada
Assim foi-me apresentada
A minha nova irmã
Tinha oito anos
Perdera o pai recentemente
E a mãe saia para entregar
Mais uma criança que não podia criar
A roupa de luto
Que cobria o franzino corpinho
Era o seu cartão de visita
Que atestava a miséria
Que vivera até ali
Não havia em seu olhar
Uma esperança de uma vida boa
O que eu via
Era dor da perda
Da solidão
Do abandono
Os olhos marejados
De lágrimas
Olhava fixamente para mãe
Que evitava a todo custo
Devolver aquele olhar
Era o medo
Era a culpa
Era a incompetência
Que a impedia de confrontar aquele olhar
Via-se claramente
Que na boca da minha nova irmã
Calava o desespero
Que a ocasião pedia
E no meio daquilo tudo
Um pensamento me fez estremecer
Tive medo de meu pai morrer
Medo de vestir uma roupa
Tingida de negro
Tive medo do abandono
Tive medo daquele olhar não correspondido
E o meu coraçãozinho infantil
Chorou...
Tomei a mãozinha da minha nova irmã
E a conduzi até o quintal
Queria distraí-la
Tira-la daquele ambiente
Triste e pesado
Enquanto caminhávamos
Ela mantinha a cabeça voltada para traz
E o olhar fixo na figura materna
Que sem esboçar uma só palavra
Abriu a porta
E saiu
Para nunca mais voltar.
By Nàdia Ventura