Tenho medo...

Tenho medo

daquilo que acorda sob os escombros.

Lajes abaladas de caminhos inusitados...

Canções não ouvidas...

Passos de dança tropeçada...

Salto estancado...

Grito contido, engolido, ecoando no peito...

Gozo adiado, para sempre pairando no ar

como brasas sobre a cabeça...

Seguir a vida é como caiar a ruina...

Do amor perdido... Do beijo negado... Da mão ausente...

O que romanticamente morre, sempre se eterniza.

Caiada ruina, túmulo não será, pois contém vida.

Fechada sobre o que um dia se erguerá dela

como flor no lodo, como mato no asfalto.

Semente alimentada pelo corpo abandonado.

Fotografia que salta do fundo da gaveta.

Memoria oculta que se revela

anunciando que sempre esteve ali

onde, seguro, o coração refugiado

acolheu a ilusão que é viver sobre afetos pendentes.

Tenho medo...

Mas não do afeto que hoje, dolorosamente

Não guardo, exponho em meus olhos cansados.

Tenho medo do seu afeto

Aquele que, ignorado, crescendo se erguerá

a partir de você na pior hora

quando suas ilusões se desmancharem como casas velhas.

Tenho medo por você, ao me descobrir necessária e perdida

pelas suas próprias mãos...

Anna Wurlz
Enviado por Anna Wurlz em 02/11/2012
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T3964979
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