Tenho medo...
Tenho medo
daquilo que acorda sob os escombros.
Lajes abaladas de caminhos inusitados...
Canções não ouvidas...
Passos de dança tropeçada...
Salto estancado...
Grito contido, engolido, ecoando no peito...
Gozo adiado, para sempre pairando no ar
como brasas sobre a cabeça...
Seguir a vida é como caiar a ruina...
Do amor perdido... Do beijo negado... Da mão ausente...
O que romanticamente morre, sempre se eterniza.
Caiada ruina, túmulo não será, pois contém vida.
Fechada sobre o que um dia se erguerá dela
como flor no lodo, como mato no asfalto.
Semente alimentada pelo corpo abandonado.
Fotografia que salta do fundo da gaveta.
Memoria oculta que se revela
anunciando que sempre esteve ali
onde, seguro, o coração refugiado
acolheu a ilusão que é viver sobre afetos pendentes.
Tenho medo...
Mas não do afeto que hoje, dolorosamente
Não guardo, exponho em meus olhos cansados.
Tenho medo do seu afeto
Aquele que, ignorado, crescendo se erguerá
a partir de você na pior hora
quando suas ilusões se desmancharem como casas velhas.
Tenho medo por você, ao me descobrir necessária e perdida
pelas suas próprias mãos...