Sorriso falso
Era calor,
Eu sentia frio
Devia ser a falta do verdadeiro amor
Ou a solidão me abraçando.
Sentia-me vazio
Como se tudo estivesse desabando.
Petrificado ficou o meu coração,
Lá se foi a minha esperança
Partindo sem olhar pra trás
Meus olhos, um grande muro fez,
Com pensamentos inseguros
A minha vida se desfez.
Não fui fraco!
Era um fardo pesado
Meu lar foi um buraco...
Buraco de mentira
Fui poupado da verdade
Envenenado pela falsidade
Forçado a viver com alegria
Com medo da covardia dos “fortes”
Meu sorriso falso era um escudo,
Porém as lágrimas que caiam no banheiro
Competiam com a água do chuveiro.
Presencie provas de amor ao dinheiro,
Narcisismo de frente ao espelho
Mesmo diante da miséria.
Fui jogado de mão em mão
E nem uma delas me deram um abraço.
Ensinaram-me as palavras mágicas da educação
Através da violência verbal,
Assim inibindo o meu intelectual,
Pois não me chamavam de homem
E sim de animal.
Não senti gosto de lábios em meu rosto,
Não percebia valor em meu esforço,
Pois nada que eu fazia
Satisfazia aquela gente vazia.
Em minha face o mesmo sorriso “falso”
De garoto brincalhão
Que fazia o que era preciso
Enquanto havia esperança no meu coração.
Sofri nesse mundo escuro...
Quando a esperança foi embora
Derrubei o muro
Criado por meus olhos,
Minha boca colocou a língua pra fora...
Meu corpo passou a ter contato com as pessoas
Sem beijos e abraços,
Foram meus braços
Que aderiram à violência
E a força de minhas pernas
Inibiam a minha inteligência.
Nesse mundo de horrores,
Horrorosos eram meus tímidos pensamentos
De que nada nessa vida fazia sentido.
Pra quem não temia a morte
Tudo era permitido.
As pessoas que deveriam me acordar da ilusão
Dormiam no colo das trevas,
Suor imundo que fedia ervas,
Narizes que escorriam por causa do pó,
Cabeças que se levantavam através da pedra
E o pior...
Uma grande ironia
Na época era conhecida como dama de branco
Heroína dissolvida no limão,
Tripas que apertavam pernas e braços
E veias velhas que pulavam de aflição
Acalmando-se com injeção.
Irônico também, porque a morte
Foi uma lição...
Morte que foi pai e mãe,
Que foi calma para o meu coração.
Sorte!
Não foi a minha morte...
Azar!
Eu descobri que sentia o tão falado amor
Quando o perdi.
Perdi amigos, família, infância...
Ganhei força e esperança.
Tornando-me adulto
Voltei a ser criança.
Meu sorriso se tornou verdadeiro,
Chamando a atenção do diabo astuto e arteiro
Dizendo-me que tudo foi culpa de um pai
Que eu tive e não tive, tive e deixei de ter outra vez.
Ele virou as costas e deu a gargalhada mais verdadeira que já ouvi,
Também fez a cara mais assustada que já vi...
Tive que rir,
Eu pisei em seu rabo
Gozei da sua cara de bravo
Enquanto dizia que meu pai verdadeiro estava vivo
E no controle da situação.
O diabo querendo ser esperto
Perguntou-me porque esse pai não me acolheu quando minha vida estava escura e meu coração era deserto?
-Para que eu pudesse rir de você hoje,
Para que eu me tornasse esse homem forte com coração de menino
E principalmente para que o mundo soubesse
Que ao lado da fé
Todos podem mudar o seu destino.