O QUE ME PREOCUPA

O que me preocupa de verdade
É a gente chamar de realidade
Isto tudo imaginado pela mente,
Porque a imaginação sempre nos mente
E o que ela inventa, chamamos de verdade.
A imaginação mal sabe o que decerto sente,
É pura ilusão utópica de alguma vaidade.

O que pensamos que é
Não é o que pensamos
Que pensamos que é...

Quem é este que me olha de dentro do espelho?
De onde viemos e para onde é que vamos?
O que foi que fizemos e onde é que estamos?
De verdade não queremos saber de nada,
Então por que é que tanto perguntamos?

Vivemos muito dessas irrelevâncias
Ou a relevância que damos às coisas
É irrelevante para as coisas que vivemos...

O que me preocupa muito de verdade
É tanta fé para tão pouca divindade,
É tanto dogma e tão pouca práxis
E mais a doxa de cada um, autoritária,
Arbitrária como a de quem inventou a verdade.
O que me preocupa mesmo é a tal santidade
Com a qual todos nós merecemos o fogo do inferno.
E desfilamos com nossas asas de anjo queimando... Que pena!
O que me preocupa não é existir o mal, é ele ser eterno
Enquanto a vida de quem faz o bem é assim tão pequena!

E há de ser de estarmos já todos mortos,
Não perdemos ainda agora nossas pobres almas,
Muito antes disso a poesia terá deixado nossos corpos...

O que me preocupa de verdade
É a verdade de mais este poema,
Que há ou não há e eu nem sei
Se é a verdade, o poema ou o dilema
Ou só outra coisa que acaso imaginei.
E me preocupa essa nem tanta poesia
Falando de coisas que ainda nem sonhei
Do fundo escuro dessa madrugada vazia.
Não são os versos, mas as palavras que nem pensei
Que do fundo desse silêncio imenso mais me angustia.

Não fosse tudo isto, eu não escrevia...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 25/10/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3951684
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