A VIAGEM DA ESCRITA
Flavia Costa

Sentada em frente ao computador
Inicio a viagem da escrita.
Traço uma rota
E no barco da imaginação,
Pensamentos a bordo,
Transbordam.
Ideias naufragam,
Outras emergem.
A razão tenta controlar a situação,
Mas um turbilhão de manifestações se sucede:
Verbos apresentam-se para tornarem-se ações,
Palavras debatem-se para serem usadas,
Capturo umas, outras escapam.
Desnorteada, procuro ser rápida
Tentando evitar que se afoguem no esquecimento.
Sem que perceba,
Mergulho atrás dos sentimentos.
A tristeza se debate em agonia,
Posso salvá-la,
Embarco-a em minha história.
Ela chora e eu estremeço.
Balanço a cabeça,
Preciso buscar por mais emoções.
Noto o ódio afogando a sensibilidade,
Penso em deixá-lo,
Mas o amor que acompanha o resgate
Incita-me a capturá-lo.
Coloco-o no barco,
Contaminando vários sentimentos.
Tentando não perder a sensibilidade,
Mergulho novamente.
Percebo a felicidade nadando em minha direção,
Puxo-a para junto de mim,
Algo bom preenche a história.
Sorrindo, continuo resgatando sentimentos e emoções,
É cansativo e desgastante.
Percebo muitos passageiros e tripulantes desconhecidos.
Em profundezas incógnitas,
Mistas sensações.
Palavras soltas, frases feitas, verbos em ação,
Sentimentos escondidos, resgates da alma,
Povoam páginas e páginas.
E ainda há tantos a se debaterem,
Nunca poderei colocar todos nesse barco.
Decido por um ponto final na viagem transbordante.
Banhada em sensações, novamente,
Estou em frente ao computador,
Respiro...
Ainda fatigada, leio a história na qual viajei,
E percebo que quem se perdeu,
Num oceano infinito,
E afundou profundamente, fui eu.