Ela, que gosta de ser gostada
Sentou-se ao meu lado e, sem tirar os olhos das pedras pretas e brancas no chão, perguntou :
- E onde ela mora, essa sua Fulana ?
Ela não mora em lugar nenhum ; mora em todo lugar.
Nas minhas noites sem cor, nas minhas tardes cinzas de domingo.
No teu sorriso ; nos passos daquele homem que passou, em cada curva dos meus.
No cheiro da chuva, entre duas cordas do meu violão, debaixo daquele tronco de árvore e no meio da areia quente.
Aqui e ali. Você encontra Fulana onde você quiser – e onde não quer.
Aqui, ali. em todo e qualquer lugar ; ela não mora em lugar nenhum.
Porque se ela é e faz parte de tudo, ela não existe nunca.
Existe idéia de Fulana. E existe, mas existe tanto, que me consome, me apaga.
Eu não existo – não posso, já que Fulana existe.
Existe tanto, tanto. Existe demais.
Não ofusca minhas outras idéias, ela |é| todas elas.
É tudo que penso, respiro, como, bebo. E é tão amarga e tão embriagante.
Ocupa todo o espaço - inclusive o meu.
Mora em todo lugar ; não mora em lugar nenhum.
05.11.06