Padeço nesta manhã tão linda
Padeço nesta manhã tão linda, assistindo pela janela do meu coração o horror e a insegurança de um jovem assustado, que se vê marginalizado, derrotado e insuficiente mediante a realização do seu ideal de amor. Covarde, inescrupuloso, vadio e outras tantas variações, compõem o quadro da irrelevante existência deste ser doentio.
Projeto-me a vagar pelas ruas a espera de socorro e espontâneos carinhos humanos, como a tratar um cachorro errante, um vira-lata estranho e aparentemente amaldiçoado. Gostaria de entoar uma endecha que lateja em meu coração, no mais longínquo, abstrato e vazio pedaço deste ser mutante. Talvez ela faça dissipar toda e qualquer melancolia que se reconforta na angústia e inquietude visceral, as quais trucidam o conforto do amor que, outrora eu tanto suplicara a fim de não sofrer. Coitado deste reles ser imaturo, endêmico que foge para se esconder do escuro. Atormentado pela dúvida mordaz que lhe insurge fugaz, semelhante a qualquer necessidade fisiológica que nos interrompe no mais distinto momento.
Na ínfima porção da rua que posso observar, há vidas que se fazem e desfazem em meu campo de visão, como se realmente precisassem realizar seus supostos objetivos. Ou talvez, estejam tentando ludibriar suas agonias e incertezas, traçando obrigações e metas que lhes alimente a vaga esperança de não desvanecer em infortúnios e tormentos vicissitudinários. Padeço nesta manhã tão linda...