PROSA DA MATURIDADE.
Por Carlos Sena



 
Um belo dia sem que você perceba, deixa de ser jovem e passa a ser maduro. Deixa de ser ingênuo e passa a ser mais crítico; deixa de ser duro com a vida e passa a ser mole consigo mesmo, ao ponto de “chorar com um beijo de novela”. Um belo dia você se descobre PORTANDO cabelos enevoados e o rosto plissado pelo tempo. Você se descobre gostando menos dos mesmos gostares e achando pouca graça nos acontecimentos que um dia te proporcionaram tanto expectativa positiva e frenesi. Você se descobre conduzindo medos que um dia não teve preocupações que nunca imaginava um dia possuir, como por exemplo, só andar com uma “farmácia ambulante” na sua maleta, por menor que seja a viagem.
Um belo dia você descobre que o amor perdeu o encanto, talvez porque nunca tenha sido assim, mas você se deu a esse equívoco pela necessidade imperiosa de se sentir amado; pelo amor a gente faz e desfaz, sobe e desce, chora e sorri, vai aos céus e aos infernos. O amor é assim mesmo cheio de mistérios que só a maturidade traz algumas certezas que nos permitem compreendê-lo. Compreendê-lo sendo de verdade depois de suportar nossas mentiras em seu favor. Compreendê-lo na linha do tempo e senti-lo no princípio do prazer em função apenas de um olhar, de um toque de mão... Esta, nem sempre sedosa, aveludada, mas sempre disposta mais ao afago do que ao gesto de adeus.
Um belo dia, você já maduro fica vendo a tarde se entregar ao anoitecer; o anoitecer se entregar ao amanhecer como que te lembrando de que na vida a única coisa que não se transforma é a transformação. Assim, se o amor se vai, deixemos que se vá. Se o amor chegar deixemos que ele crie limo. Se a solidão for aos poucos se estabelecendo em sua vida, resta compreendê-la... Parece mesma que a vida é essa difícil compreensão entre o amor e a solidão, porque enquanto o amor nunca diz quando chega, a solidão nunca diz quando vai embora...