QUEDA E REDENÇÃO

Com sofreguidão bebi o líquido encarnado da taça verde-mar, pura esperança, que tuas mãos afoitas me estendiam. Torpor voraz me consumiu, aniquilando, segundo por segundo, a minha mente, forçando meu sentir para a demência que só vestem os incautos. Figura sem sombra me tornei, eu era a tua sombra. Sedenta me envolvi na noite, a mesma noite que eu amava e que agora, em desespero, me acolhia ébria. Perdi os sonhos, a ilusão, a fantasia. Mudei a rota, procurei caminhos, perdi o chão. A ti nunca dei pistas do meu rumo, nunca chegaram notícias das dores que, como labaredas, me consumiam e que, sôfrega, eu consumia em goles amargos e estonteantes. Fugi do teu contato que, como lepra, arrancava pedaços da minha alma. Tornei-me cínica, fugaz nas relações, não mais amei. Se hoje estou em pé, devo a mim mesma. Das cinzas ressurgi e não foi fácil. Mas empreendi o caminho de volta e adquiri a estabilidade emocional. Apenas optei pela solidão. Se foi uma fuga, não importa. Gosto da solidão que, na queda, me deu recursos para pensar e, na redenção, preenche e acaricia meu viver. Com ela descobri que existe vida depois de ti...

Giustina
Enviado por Giustina em 18/10/2012
Reeditado em 14/05/2015
Código do texto: T3940023
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