BOBAGENS...trinei algumas canções...murmurei
Trinei algumas canções...murmurei canções antigas...rebusquei lembranças...coisas minhas, há muito perdidas nos antanhos de minha juventude.Chuleei com palavras singelas alguns versos sem repertório. Um tosco cachimbo a boca sem sorrisos...um sabor de ausência. Nomes de pessoas gravados na paineira em frente...dois corações talhados a canivete...pessoas em preto e branco na minha memória...aquelas dos retratos amarelecidos; rostos tristonhos. O lambe-lambe do sal na cocheira...bovinos abanando as caudas. A marca escura no terreiro...última fogueira de São João; Ritinha, Mariquinha, Clotilde, Véio Cesário contando prosa, Mundim e tantos outros me recordam suas falas macias e distantes. Uma velha porteira de cedro já corroída, feita pelo meu finado pai Brígido, tocador de viola, de sapateado barulhento e compassado, cantador de voz rouca e gargalhadas ásperas...poucos amigos e uma ninhada de dezoito filhos, com uma única mulher...verdadeiramente “ ÚNICA”.
Quase me desfiz, preso a um silêncio incômodo, frio...sorvendo uma mistura de ausência, amargura, aguardência, embebidas em travos gotejados...meio doces, meio amargos...meio alegres, meio tristes! Recolhi-me em minha alcova fria...isolei-me. Momentos, esperas contínuas...saudades...coisas minhas ... bobagens!