Os grandes amores
Não pense que grandes amores são eternos.Não confie na sua longa duração prometida no calor da chegada.Porque grandes amores também possuem data de validade.
Os grandes amores são frágeis.Quebram-se ao menor descuido e mesmo ao mais leve toque das mais frágeis mãos.Vamos carregando-os, equilibrando em mãos trêmulas pelas cordas bambas da vida e uma hora ou outra tropeçamos em algum nó do destino.
Grandes amores não resistem aos tropeços.Quando se chocam com a realidade de um chão frio, são raros os que não se disfazem em cacos e poeira.São quebráveis, em sua grande maioria.Não resistem à menor queda.São mais melindrosos que os santos de barro e as taças de vidro.
Os grandes amores agonizam no tédio ou na exaustão.São envenenados pela própria terra onde foram plantados.Os grandes amores morrem corroídos, de dentro pra fora, enferrujam, estragam e apodrecem com o tempo.Afogam-se em areia movediça, não sobrevivem às cheias, afundam-se na própria lama.
Os grandes amores, por vezes, brotam de sementes inférteis de futuro.Não possuem um depois, ou um amanhã.São incapazes de sobreviver por muito tempo.
Grandes amores também morrem.Por qualquer motivo, ou até mesmo por nenhum.
A única eternidade possível aos grandes amores está em seu próprio sepulcro.Seu pó jaz no coração eternamente, sem probabilidade de ressurreição.
Tenho aqui comigo, um cemitério de grandes amores, escondido no lugar mais intrínseco da alma.Tenho uma coleção de grandes amores sepultados, findados pelo tempo e assassinados pelos venenos deste mundo.
Mortos.Todos mortos.
Lembro-me bem de seus últimos suspiros.Adoeceram e foram consumidos tão rapidamente, que não pude fazer nada.E ainda que pudesse, não teria tempo.
Morreram todos nos meus braços, diante de meus olhos chorosos e minhas mãos vazias.Morreram de tédio, de silêncio, de agonia e ódio.
Este é apenas um réquiem à eles, em memória aos últimos instantes, aos últimos olhares e abraços, aos últimos suspiros...Às partidas, sem retorno e aos muitos adeus.