Atrás da porta

Ao abrir os olhos, após uma derradeira tentativa de dormir, vi o fim de uma era, de toda uma fase de minha vida; ela estava lá, jogando a cena final do último filme, compondo o cenário com cores de discórdia e acordes de amargura, no centro da tela daquela manhã.

Tentei fechar os olhos, não para dormir, na espectativa de acordar do pesadelo; queria que aquilo terminasse logo.

A lembrança de outros momentos me invadiu o espírito; talvez sentisse saudades; Não! Tudo seria esquecido logo, tal uma fuga furtiva, apagada por novas emoções, mais profundas e significativas; passei um tempo assim, lembrando, sem recordar.

Reabri os olhos. Ela ainda estava ali, não acreditava minha decisão, mas sabia que era verdade e tinha que aceitá-la. Ela estava curvada diante a mim, aquém de meus pés, além dos limites de Dante; chorava, gritava, batia, espancava como podia e nem sequer me feria; ela estava ali, me puxando o pijama, agarrada a mim, hurlando que me ama; enfim, já em pelo, sem mais quase pelo, a repulsei, e pelo que sei, por uns tempos, pelo menos, escapei.

Deixei-os, o quarto, a cena e ela, numa luta paradoxal, largada na claridade nostálgica dos primeiros golpes da alvorada; abandonada, totalmente descuidada; e desnuda de orgulho, ela, num desalento, descoberta, clamou uma vez mais a mim, porém não ouvi.

Atualmente, maldito por atos alheios, não me arrependo, não ligo pro passado, pois mesmo o preço sendo pago, nada a mim foi debitado. Soube dela: à deriva, provando uma antiga dívida; andando ao contrário, a ermo, longe do termo de um erro solitário.