O AMOR QUE É POSSÍVEL.
Por Carlos Sena
O amor é mesmo um grande diferencial na vida dos seres humanos. Há quem só queira entendê-lo no viés romântico que os contos de fadas imortalizaram. Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, ainda nestes tempos modernos, parece que povoam o inconsciente de muitos, especialmente dos nossos jovens. A despeito de quererem ser “prafrentex”, adeptos do “ficar”, quase sempre quando cansam de ficar, envereda em busca de um amor bem cara metade, banda de laranja, panela e texto, alma gêmea, meio à moda antiga.
Amar alguém nos parece claro como água da fonte. Mas há quem busque essa clareza nas profundezas dos oceanos ou dos infernos. O amor pode está aqui, mas pode também não está. O amor pode ser o que vejo, mas pode morar, de fato, onde não vejo; pode está contido na linha do horizonte ou na linha do equador; mesmo nos cus dos Judas o amor pode estar. Certo que podem dizer que nele há mistérios. Mas, sem mistérios, como seria amor? E seu pior esconderijo – aquele em que todos os seus mistérios se escondem está pertinho de cada pessoa, às claras. Porque ele só se permite (tenho essa impressão) ao amor com mais naturalidade àquelas pessoas que não se buscam no outro. Àquelas pessoas que já se amam e buscam alguém inteiro para, juntos, caminharem pelos atalhos que a vida só dá aos que se descobrem no amor.
Por isto, quando o entardecer se entrega todinho aos braços da noite, fico imaginando que o céu não é o limite e que a própria noite não se faz palpite para encobrir solidão. Felizmente que não há escola para que se aprenda a amar, exceto a vida por si mesma. O amor acontece com a naturalidade de uma flor que se abre sem que se perceba no jardim da nossa casa, ou tão somente na varanda – num vasinho solitário que a gente rega e, de repente, eis que ela surge impávida, sendo dona absoluta da varanda. Assim, belo dia, a gente se acorda feliz por nada; a gente se descobre fazendo domingo numa segunda-feira; achando graça num bem-te-vi que te deu bom dia na tua janela; a gente descobre que o rancor só nos causa mal; que o perdão é mais importante para quem perdoa do que para quem é perdoado; a gente descobre que toda dificuldade pode nos gerar ganhos e que em todo ganho há perdas. Igualmente, a gente também descobre que o tempo modifica nosso rosto, mas que o rosto não perde o olhar por conta do peso do tempo. Do mesmo modo, a gente descobre que amigos não são feitos para nossas cobranças e que, sendo amigos, não devem nos cobrar nada nem acerca delas. Descobre ainda, que a vida nem sempre é bela, mas a beleza dela tem que ter nosso patrocínio; descobre, finalmente, que não precisa de ninguém – essa é a chave: pessoas inteiras não querem andar com as pernas dos outros. O amor talvez seja um pouco disto, mas muitos são os que querem um grande amor em condições ideais de “temperatura e pressão”... Um belo dia a vida foi ontem e o amor ficou em bares, em noitadas, em traições, em brigas, em fustigações, em sexo, em paixão. O amor é tênue, é leve, é etéreo, é princípio e fim, mas não ignora o meio...
Por Carlos Sena
O amor é mesmo um grande diferencial na vida dos seres humanos. Há quem só queira entendê-lo no viés romântico que os contos de fadas imortalizaram. Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, ainda nestes tempos modernos, parece que povoam o inconsciente de muitos, especialmente dos nossos jovens. A despeito de quererem ser “prafrentex”, adeptos do “ficar”, quase sempre quando cansam de ficar, envereda em busca de um amor bem cara metade, banda de laranja, panela e texto, alma gêmea, meio à moda antiga.
Amar alguém nos parece claro como água da fonte. Mas há quem busque essa clareza nas profundezas dos oceanos ou dos infernos. O amor pode está aqui, mas pode também não está. O amor pode ser o que vejo, mas pode morar, de fato, onde não vejo; pode está contido na linha do horizonte ou na linha do equador; mesmo nos cus dos Judas o amor pode estar. Certo que podem dizer que nele há mistérios. Mas, sem mistérios, como seria amor? E seu pior esconderijo – aquele em que todos os seus mistérios se escondem está pertinho de cada pessoa, às claras. Porque ele só se permite (tenho essa impressão) ao amor com mais naturalidade àquelas pessoas que não se buscam no outro. Àquelas pessoas que já se amam e buscam alguém inteiro para, juntos, caminharem pelos atalhos que a vida só dá aos que se descobrem no amor.
Por isto, quando o entardecer se entrega todinho aos braços da noite, fico imaginando que o céu não é o limite e que a própria noite não se faz palpite para encobrir solidão. Felizmente que não há escola para que se aprenda a amar, exceto a vida por si mesma. O amor acontece com a naturalidade de uma flor que se abre sem que se perceba no jardim da nossa casa, ou tão somente na varanda – num vasinho solitário que a gente rega e, de repente, eis que ela surge impávida, sendo dona absoluta da varanda. Assim, belo dia, a gente se acorda feliz por nada; a gente se descobre fazendo domingo numa segunda-feira; achando graça num bem-te-vi que te deu bom dia na tua janela; a gente descobre que o rancor só nos causa mal; que o perdão é mais importante para quem perdoa do que para quem é perdoado; a gente descobre que toda dificuldade pode nos gerar ganhos e que em todo ganho há perdas. Igualmente, a gente também descobre que o tempo modifica nosso rosto, mas que o rosto não perde o olhar por conta do peso do tempo. Do mesmo modo, a gente descobre que amigos não são feitos para nossas cobranças e que, sendo amigos, não devem nos cobrar nada nem acerca delas. Descobre ainda, que a vida nem sempre é bela, mas a beleza dela tem que ter nosso patrocínio; descobre, finalmente, que não precisa de ninguém – essa é a chave: pessoas inteiras não querem andar com as pernas dos outros. O amor talvez seja um pouco disto, mas muitos são os que querem um grande amor em condições ideais de “temperatura e pressão”... Um belo dia a vida foi ontem e o amor ficou em bares, em noitadas, em traições, em brigas, em fustigações, em sexo, em paixão. O amor é tênue, é leve, é etéreo, é princípio e fim, mas não ignora o meio...