Perdoai o amanhã.
Esse intento vem há dias. Num desassossego tão grande que o melhor foi mesmo me sentar aqui no canto e gritar para quem não ouve que preciso de um rumo.
A situação é triste, quase me esqueci de perdoar.
Perdoar a maldade que há, sob máscaras que não caem mais. A pintura da maquiagem já incorporou a pele e o suor já não mais é capaz de derreter essas cores.
Quase. Quase esqueci de perdoar. De trazer à tona aquilo que não aprendi em casa, mas com a vida. Que o perdão não acalenta, nem apaga, só sossega.
Esse texto vem gritando há bastante tempo em mim, e segurá-lo foi como um aborto.
Hoje ele nasce. Com as mesmas feições, sem feridas.
Quase. Quase me esqueci que nada disso é real, e que, no final, eu serei.
Não haverá, nem serão. Muito menos seremos.
Alfim, nenhum aprendizado se fez suficiente e nenhum esforço foi o bastante. Esquecer de perdoar também não resulta em nada. Preciso sair do canto.
Perdoar, para um amanhã. Porque Deus não perdoa. Se há vida, que se cumpra, pois quando o soneto acabar, vão com ele a vida e o tratado do perdão.