Pingado
Pingado
Teve um pedaço do caminho desarranjado, outro depauperado, quase esfaimado, teve um enfunado, de crista alta, não fosse tão estúpido teria brilhado, mas não, mal passava de um projeto de galo, atarantado, de peito estufado, esboço desgovernado de um trem semiacabado. Nem deu resultado.
Outro pedaço do caminho aconteceu de noite, esbugalhado, eita caminho truncado, olhando pra trás parece que tá tudo encaixado, ficou uns anos assim, pasmado, não fosse tão estúpido estaria arranjado, mas não, vive olhando pros lados, de dia esmiúça feito radar quebrado, de noite se sente cansado, esperando o resultado.
Chorou como criança ao atinar que não tinha fim e pelo mesmo fito riu igual a um palhaço desolado, queria consolo, achou trovoada, queria dar sem receber nada, jorrar que nem uma bica saída da terra esvaindo pra sempre uma água lavada, não fosse tão xucro teria plantado, que nada, perdeu as sementes num atalho enluarado, de noite suspira e anota ditados, eita caminho rendado.
Acordou ontem de olhos fechados, amarrotado, cheirava a algo que queria acertado, cuidado, pensou, antes de levantar, julgou o mundo desajustado, a cidade mal afamada, os amigos afastados, os anseios ora multiplicados e ora trocados por trocados que foram trocados num tempo muito afastado. Não fosse tão fora de si teria encontrado. Saiu da cama no passo contrário do apressado, por um segundo lembrou do sonho passado, fora ter com uma gente num grande bailado, um troço meio encantado e depois ficou tudo borrado. Mais um sonho sonhado. Vestiu-se para conferir o resultado.
No dia de hoje não andou cismado, atravessou a rua como um felizardo, tem momentos somados, costurados por um destino suado, viu de longe um barco afundado, deu meia volta e respirou largado, descobriu tudo tão bem arranjado que se lembrou de uma mulher e deitou ao seu lado. Desde então vive contente, feito um gato pingado.
(Imagem: Qaqortoq, Dinamarca)
Pingado
Teve um pedaço do caminho desarranjado, outro depauperado, quase esfaimado, teve um enfunado, de crista alta, não fosse tão estúpido teria brilhado, mas não, mal passava de um projeto de galo, atarantado, de peito estufado, esboço desgovernado de um trem semiacabado. Nem deu resultado.
Outro pedaço do caminho aconteceu de noite, esbugalhado, eita caminho truncado, olhando pra trás parece que tá tudo encaixado, ficou uns anos assim, pasmado, não fosse tão estúpido estaria arranjado, mas não, vive olhando pros lados, de dia esmiúça feito radar quebrado, de noite se sente cansado, esperando o resultado.
Chorou como criança ao atinar que não tinha fim e pelo mesmo fito riu igual a um palhaço desolado, queria consolo, achou trovoada, queria dar sem receber nada, jorrar que nem uma bica saída da terra esvaindo pra sempre uma água lavada, não fosse tão xucro teria plantado, que nada, perdeu as sementes num atalho enluarado, de noite suspira e anota ditados, eita caminho rendado.
Acordou ontem de olhos fechados, amarrotado, cheirava a algo que queria acertado, cuidado, pensou, antes de levantar, julgou o mundo desajustado, a cidade mal afamada, os amigos afastados, os anseios ora multiplicados e ora trocados por trocados que foram trocados num tempo muito afastado. Não fosse tão fora de si teria encontrado. Saiu da cama no passo contrário do apressado, por um segundo lembrou do sonho passado, fora ter com uma gente num grande bailado, um troço meio encantado e depois ficou tudo borrado. Mais um sonho sonhado. Vestiu-se para conferir o resultado.
No dia de hoje não andou cismado, atravessou a rua como um felizardo, tem momentos somados, costurados por um destino suado, viu de longe um barco afundado, deu meia volta e respirou largado, descobriu tudo tão bem arranjado que se lembrou de uma mulher e deitou ao seu lado. Desde então vive contente, feito um gato pingado.
(Imagem: Qaqortoq, Dinamarca)