Madrugada de Inverno
Não é somente o sono tombando sobre os olhos;
Há lá fora um fantasma sobrevoando toda a orla,
Com enorme esforço olhava a sua veste esfumaçada...
Encobrindo a prai, a as areias, os céus, as árvores, tudo em volta;
Um frio arrastado em correntes do sul agitava os ossos de pouca carne;
Tremer e bater de queixos, mãos arroxeadas, lábios pálidos, pele de mármore. Congelada...
Um chá bem quente, uma lã sobre os ombros, cobertores e frio muito frio...
Nada capaz de disfarçar a ausência doída do verão...
Do corpo aquecido a beira mar...
Do sol atrevido em raios, em ciclos, em labaredas incandescentes a arder, a luzi,r a se divertir na cor bronzeada...
Nada capaz de afastar os pensamentos, os desejos, os anseios, os medos de não realizá-los a contento, a tempo de ver, de viver, de sentir o fogo ressurgir nas estações...
Pois agora o fantasma ronda lá fora...
A brancura é neblina, é repleta de dúvidas, de cismas...
Falta amor... Sobra cobertor...
A cobrir os sentidos.
A despistar os instintos recolhidos ao inverno obscuro em fuga de si mesmo...
Aqui dentro,
O sono tomba sobre os olhos... E a mente entoa velhos cânticos, mantras, hinos e caminhos míticos por onde deve prosseguir o sonho... Nesta madrugada invernal onde hiberna o plausível e caminha o questionável... A morte chega aos poucos.
CRISTIANA MOURA