Parabola, Parabolé

Não sou homem de poucas palavras

Sou de muitas

Queria ser de todas.

E as prefiro escritas,

Para que ao vento não se percam.

Canto palavras, complexo tenor;

Pinto palavras, prolixo pintor.

Brinco, danço e ensaio em rascunhos.

Desenho e enceno.

Divirto-me, sorrio, quando as diverto,

Em desencaminhos.

Por vezes, as enfrento, estico e manipulo, sim.

Mas não tergiverso, não divirto.

Venero palavras. Amo palavras.

Como as mais apaixonantes e elas me habitam.

As digiro ou regurgito.

Saboreio metáforas ou vomito frases.

Lambo morfemas.

Devoro significantes, excreto significados.

Galanteio palavras. Por vezes as traio:

Com sinônimos, com brincadeiras, com antônimos.

Em consentida poligamia, adoro que outros as usem. Bem.

Respeito as palavras.

As aceito limitadas.

Consolo as emotivas;

Retruco às racionais.

Enalteço inclusive as que ainda precisam ser inventadas.

As crio e as crio. Nascimento e educação.

Em todas creio.

Defloro neologismos.

Perifraseio em orgasmos múltiplos.

Falando, versando, conversando.

Enaltecendo, xingando, duvidando.

Ironizando, complementando, concordando.

Citando, confabulando, dialogando.

Relendo, rimando, recitando.

Escrevendo. Vivendo. Escrevivendo.