Arranca tudo
e põe tudo de volta,
aperta, afrouxa,
afrouxa, aperta,
desconcerta,
acerta em cheio,
desperta a alma,
vira do avesso,
derrama o saco cheio,
revira, inspira,
tira tudo do meio,
volta ao começo,
num tropeço,
balança e cai,
dança e vai,
cansa e sai...
Outro recomeço
remoço lembranças,
remôo esperanças,
não esqueço as crianças...
Apruma, afina,
desafina, arruma,
desarranja,
nunca atina
o bater das horas
o fio da vida
sem destino nem sina
quando não se ensina
a vil batalha que calha
temer o fio da navalha.
Subestima
a vontade de ser rio
estima um verso diverso
a poesia entrando no cio
vontade de morrer no mar
de amar mais que amar
e mais que amar te adorar
a vida inteira até o fim
até o fio do tempo
romper-se a tempo.


Aquieta,
espreita o silêncio e deixa,
junta, espalha, monta,
amontoa...
destoa este canto
entoa um seu pranto
se quiser, à toa,
que a vida é boa,
mas não garanto...
Planto meus olhos
verdes ainda
num escuro vaso fundo
do fundo de um céu ao léu
e essas emoções vagabundas
fazem o maior escarcéu,
ainda verdes a amadurecer
na podridão de um infinito,
talvez num dia assim bonito,
como este que agora como
em suas horas devoradas
nessa vida já demorada
que se esvai tão aos poucos
aos trancos num sem tempo
que ainda no tempo me devora
quando aflora a dor que brota
a única flor que ainda importa
na vida toda que volta!
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 06/10/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3919138
Classificação de conteúdo: seguro