Dou-me
Dou-me ao ser, enfado e assim como em oração, junto as mãos
E peço ao céus, que o meu, no teu se finde, dê cabo
De mim em ti, de ti em mim, aquilo tudo de amargo,
Talvez doce, mas que se torna culpa, falta, cansaço
Que se junte as lembranças em vias de esquecimento
E que se esbarrem apenas elas como folhas, num amasso
Se borre entre pontas, empanadas de outrora momentos
E que se tenham rascunhos, que para nada servem...
Dou-me ao ser, que era, e com calma espero escrever-te
Mas esqueço, que de ti não guardo letra, tão elas se metem
Por entre as folhas, quer seja num pensamento...
Minha oração não é ouvida, e de vida se faz ou, sina
Pois a ti não quero ser lembrança, quedada, nem culpa
Como assim me és, fado...Queria ser aquilo que não posso,
nem fui, jamais seria decerto.
Assim, em ti não me quero ensejo, nem gosto, dissabores
Tão pouco desgosto, tacto, nem sombra,
Que eu seja apenas linha, fina...Ténue,
que se rebenta por entre os pés, que em escárnio caminham
Escárnio, amor de outrora, dado, ao rumo que se perdeu...
E que alguém encontre,
Ainda que para tripudiar, encumear o restolho que se fez, um ser
Que era...Dou-me, tão apoucado, que poucos hão de ver o que ainda resta.