Poética da Construção
I
É tanta letra
pra pouca poesia
caindo da rotina
direto pra esta mesa
II
Peguei a caneta pra escrever as canções
que falassem sobre amores
ou sobre os sertões
tão secos
secos de soluções
dentro de mim, de nós.
E depois quis ficar assim, a sós
com o tédio entre o bolo de lençóis
e ilusões
III
Aí, daqui a pouco,
vou olhar pela janela
e verei que antes via
a rápida passagem dos planos,
e que da TV que está no quarto há tantos anos,
só ficaram as simetrias
IV
Só o que não passa rápido
é o que escrevo por esta caneta
E a rotina desta mesa
são esses demorados esboços!
Pois já sei o motivo das palavras serem feitas de letra em letra:
é porque tudo na vida se constrói aos poucos.