Vosso retorno
Em leito. No teto, um céu de estrelas, e quando as luzes se apagam apenas uma brilha constantemente. Vontade de trazê-la para perto com a sombra da mão e aconchegá-la, carinhosamente, junto ao corpo mais próximo de um calor todo seu.
Sim, um belo sonho.
A mesma, vestida em mulher, passava o dia inteiro buscando detalhes dos minutos que se passavam de olhos fechados, lembranças de momentos não vividos.
Sonhou então, com cartas que por memória foram escritas com bela letra, em tinta colorida, ordenadas metricamente ao tempo do papel, amassado como se não fosse importante. E lá dizia: Posso ter encontrado o amor! Que fez do sentimento maior, mais do que simples palavras e mesmo que seguido de um outro caminho, já esteve realmente comigo...
Já não pode mais ser enchergado do outro lado da ponte.
Números estremecidos, jogados em folhas de contratempo, já não se transformam em contas. Ao contrário, são maneiras de marcar as idas e as voltas, de borrar as idas e quase voltas, de apagar as idas sem voltas. A cada fardo é um vazio, é um sentimento que se torna tudo aquilo que quisermos.
A crença está quebrada, e aos poucos se movimenta.
Ouvia rojões, se não, fogos de artifício a vagarem. Soltos, perdidos. Os mesmos incomodam com o barulho. Surda a mais livre audição, explode a antiga equação que de números abstraem sentidos. E escuto o Russo gritando em canção: “Não deixe a guerra começar!”
Explosões intensas, a guerra dentro de nós.
De repende, assim cadente, uma surdez seletiva tomou conta de um todo. Capaz de abranger todas as estrelas e de afogar em sonhos a lua cheia, se encontra o branco de seu corpo. Melado! Esbaldando amores no perfume da primavera acentua cada palavra que ousa a sair da boca. Cada verso quebrado se torna um hino, uma canção ardente que hoje sonho e que amanhã não se vive.
Eu vivo!