COM ELA EU NÃO ME SINTO NUA
Vesti o manto dos sonhos e ele era azul como o firmamento nas manhãs de primavera. Inebriada pela magia fui à procura dos anseios aprisionados em meu coração. Meus anseios diluíram na atmosfera saturada do desengano e eu concluí que eles são parte de um momento e que a vida não é construída de sonhos.
Vesti o manto da alegria e ela era multifacetada, não era permanente e seu perfil era uma colcha de retalhos. Retalhos de alegria, mesclados com a dor, que me levam a sofrer, mas me fortaleceram e me ensinaram a viver.
Vesti o manto da saudade, buscando reviver um tempo que foi bom. Mas vi que a saudade também dói, machuca a alma. Aprendi que não devo cultivá-la muito tempo, pois a saudade representa algo que se foi, que mora no passado e esse é imutável. Saudade é um quadro de algo que ficou na galeria de nossas vivências.
Vesti o manto da esperança e constatei que ela sempre me vestiu. É ela que manteve o que vivi, que dá sustento à vida no presente e que sem ela o futuro não tem cor. Ela agasalha minha alegria e minha dor, mantém acesa ainda a ilusão e a confiança no porvir. Se é apenas um utópico sentimento, eu não sei. Mas ela me cobre, hoje, como no passado me vestiu. Com ela eu não me sinto nua...