Gratuidade

Estranhamente, às vezes o júbilo se confunde

Como café com leite...

Nunca sei quem termina e noutro começa

E tudo que resta é “algo”, indefinível

O calor impregna meu quarto e roupas

Os poros exasperam

Mas os olhos continuam cansados e desfocados

Como se aquece uma alma?

Algo parece perdido entre a pele e o tato

Sentir, mas não ser afetado

Na valsa do não-ser, afio os ouvidos

E o compasso sussurra um devir

Em pleno inverno carioca, em meu peito neva

Flocos de temor e medo, calados

Coisa engraçada, essa neve...

Quando muito alta, ela aprisiona os moradores

Queria um chá, algo que aquecesse onde o sol não chega

E o fantoche de neve que me encerra, sinta

Tento ver o dia pela janela, ver outros calores e frios

Mas de olhos semi-cerrados, o horizonte é penumbra

Acho que a tudo existe sua contra-medida

Yin Yang, sombras e luz, felicidade e cerveja quente

Espiei novamente a janela, esperando algo que assustasse o frio

E que vibrasse os nervos desligados

Alguém me espiou, de fora

Olhos redondos e vivos, cintilando uma luz q não compartilho

Esperei, mas nada novo, a neve ainda estava lá...

Então, desavisada, ela sorriu, travessa

Sobre seus cabelos molhados, às suas costas, vibrava

Um sol morno e convalescente, abraçou

Temeroso, esperou minha negligência

Mas ela insistia, e não pude deixar de ver

Mais uma primavera, eu disse

Os ninhos inflavam e os pios reboavam

Acordes novos

É primavera...! - ela sorriu

Estranhamente, às vezes o júbilo se confunde

Como coca e limão...

Uma vez imerso, não se dá pra perceber onde está o quê

Mas não perguntamos, não carece. Apenas bebemos e brindamos

Um sorriso me aqueceu esta noite

Enfim dormi e sonhei. Sem neves na soleira