Dedilhamento Poético 


 A++mulher+viol%255Dao+%25281%2529.jpg

 
Os  meus pensamentos, apesar de andarem enfileirados, não sabem como esperar. Também não sei dizer de onde vem esta ideia de posse, já que nenhum deles me obedece. Melhor seria que não fossem meus, e que estivessem livres. Nesta maneira de pensar, houve, em mim, uma precipitação carnal quase abusiva. Eu sempre desconfiei dos pensamentos. Benditos pensamentos! Fazem bem. Fazem mal. E muitas vezes, nada fazem. Mas o ser humano tem mania de brincar com os sentidos. Foi assim que eu me senti perdendo.
 
A minha flor costuma nascer nos bosques e, além de obedecer os meus pensamentos, acredita, veemente,  naquilo  que o meu signo diz:

“A sua flor é a flor-de-lis”.
 
Meus sentidos gostam disso. E eu me penso uma orquídea selvagem  beijando o lírio. É assim que meus ouvidos ouvem mil declarações de amor. É assim que meus braços se abraçam quase rasgando a  minha pele. É assim que minhas pupilas se dilatam numa visão qualquer. E eu me vejo no vento que me sopra, roubando  o perfume do meu lírio, com tal velocidade, como são roubados os meus desejos. Desnuda, eu me deito  na relva e fico a  pensar em nada...
 
E, se nada me alivia,  eu me lembro que meus pensamentos me fazem lembrar uma represa. E danam a abrir as suas comportas, porque vivem presos e sedentos. Mas não há fonte segura para os pensamentos. E eu não lhes digo nada. Falar,  só aumenta a sede. A ideia de não ter fonte faz  os pensamentos crescerem. Com pensamentos maiores, eu perco a oportunidade de deter o meu lírio. É assim que um pensamento arvorado se veste de baobá.
E, pela extravagância do pensamento, fica prejudicado o meu desejo maior, pois a presença do baobá em mim faz pesar os meus sentidos. Eu, para não perder a leveza do meu lírio, deixo de pensar.

______________________________________________

Ouça: Flor-de-Lis, Djavan


www.youtube.com/watch?v=nCtgoFmvyIw


Imagem: Google.