Tem de fazer assim um silêncio estranho,
Por vezes a poesia se cala e se fecha e se vai
Não sai e se entranha mais onde vive entranhada
E o olhar se volta para o concreto. Que concreto?
E se perde entre as idas e vindas de uns passantes,
Será que já nunca nos vimos talvez antes? Nunca!
Há muita história no vincado triste de cada rosto.
E me entristece por vezes não saber delas e imaginar,
“Aquele velho cantor não toca violão na rua por gosto”
Necessidade nessa cidade é a única moeda de troca,
Troca de mão, troca de pé, troca de bolso, troca de rosto
O que me aborrece na cidade é não haver lugar para todos
O que me mata é ver em poucos olhares tanto desgosto.

A felicidade é uma esquina que vai dar num beco sem saída,
Uma escadaria às escuras de um prédio velho abandonado,
Onde mora o esquecimento de todos aqueles que já foram
Algo ou alguém, mesmo ninguém, os que já não são também.
Todas as alegrias vãs de outrora vão escorrer pelos bueiros...

Não quero mais essas necessidades, nem viver nessa cidade,
Não quero todos os meus sonhos roubados em cada esquina,
Não quero essa tristeza que me vem sempre de um alheio rosto,
Porque eu me faço do que sou e não daquilo que se imagina
E se teimo em viver ainda eu vivo e tudo é por puro gosto...

Mas para tudo isto tem de fazer assim um silêncio estranho
Mas às vezes a poesia desabala num terrível grito e sai...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 27/09/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3904154
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