Sou um rio
Sou um rio.
Vou, inexoràvelmente, em direção ao mar.
Não é minha escolha. É o meu destino.
Sou um rio:
- ora de águas cristalinas,
borbulhando entre as pedras;
- ora um caudaloso manancial,
de águas escuras e misteriosas;
- ora uma corredeira perigosa,
cheia de curvas traiçoeiras;
- ora despencando,
numa nuvem vaporosa,
em uma altiva cachoeira.
Vou, inexoràvelmente, em direção ao mar.
Não é minha escolha. É o meu destino.
Posso almejar permanecer
junto à macia relva,
que contorna meu caminho;
- adentrar na plantação de arroz,
que se levanta, com vigor inusitado,
em direção ao firmamento;
- espraiar-me até as margens arenosas,
para transformar-me em praia,
apreciada pelas crianças do lugarejo;
Vou, inexoràvelmente, em direção ao mar.
Não é minha escolha. É o meu destino.
Eu poderia desejar...
- oferecer suporte aos barcos,
que buscam a calma segurança
de minha profundidade;
- dar abrigo aos multicoridos peixes,
que em meu leito, encontram farto alimento e aconchego;
- molhar o corpo moreno da jovem trigueira
que, com naturalidade, deixa-se acariciar
pela minha espuma, deslizando em cachoeira;
- ser parceira da lavadeira
que, ritmadamente, bate a roupa, nas minhas margens...
Vou, inexoràvelmente, em direção ao mar.
Não é minha escolha. É o meu destino.
Então, nostàlgicamente, submeto-me ao meu destino, que é unir-me às águas do oceano, tornando-me parte de algo maior, e nele perder-me, deixando para trás o que vi e o que partilhei, renunciando à minha própria identidade.
Concluo então, que mais importante que a chegada, é a viagem, são as flores dos caminhos percorridos, é o sabor de aventura, usufruído no trajeto.